quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cantos de Saudade, Ecos de Conquista


Parti da minha terra, na canoa de papel,  

Veio a maré da vida e me lançou ao léu.  

Mas nas águas do destino, um novo farol no céu,  

O cerrado acendeu sua luz, um mistério fiel.


Oh, como anseio pelas vozes que lá ficaram,  

Pelas melodias do vento, pelas chuvas que falaram.  

Mas cada nova amizade, cada sorriso que ganhei,  

São novas canções, ecos de vitórias que eu sei.


Nas noites de Goiânia, ouço os tambores do meu passado,  

Mas também a guitarra do agora, o ritmo acelerado.  

A saudade canta em mi menor, um acorde arrastado,  

Mas a conquista ressoa em sol maior, o tom do agrado.


O sertão e o cerrado, dois cenários, um só ator,  

Eu recito meus versos, com saudade e com fervor.  

Se por um lado a ausência me marca como um estigma,  

Por outro, a presença me dá a certeza do enigma.


Neste poema, a saudade e a conquista se enfrentam,  

Como dois corais em harmonia, eles se complementam.  

Os ecos do que foi e os cantos do que será,  

Unidos na sinfonia da vida, onde eu sou a voz que está.


Espero que este sexto poema também tenha capturado a complexidade das emoções e experiências que definem uma vida entre duas terras. Gostaria de saber o que você acha.

domingo, 6 de junho de 2010

Do Norte ao Cerrado: Um Retrato em Estrofes


Quem diria que um dia cruzaria essa fronteira,  

Do norte onde nasci, ao cerrado, minha trincheira.  

A mata e o rio, contrastes do solo e da madeira,  

Duas terras distintas, mas ambas dentro da mesma esteira.


Vi o pôr do sol pintar de ouro o meu antigo lar,  

Agora, neste novo chão, o céu também sabe brilhar.  

A beleza é diferente, mas não deixa de encantar,  

Cada lugar tem seu encanto, seu próprio olhar.


Os amigos que deixei, suas faces na memória,  

Na nova cidade, outras faces, mas a mesma história.  

A vida é um livro em constante escrita, uma trajetória  

De personagens e cenários, com sua própria oratória.


Os dilemas que me afetam, já foram sentidos por outros,  

As palavras que agora escrevo, são ecos de antigos potros.  

Na grande tapeçaria da vida, somos todos apóstolos  

De emoções e sensações, guardiães de segredos colossais.


Aqui, na terra do pequi e do cerrado em flor,  

Me descubro novamente, um versificador de amor.  

Não importa de onde venho, nem o anterior  

Eu sou um mosaico de lugares, um imigrante sonhador.


Nestes versos, junto o norte e o cerrado, duas terras,  

Como se junta a areia e a água, nas margens das serras.  

No fim, sou eu e minha pena, minha própria guerra,  

E a vitória é cada poema, nascido de qualquer terra.


Espero que este quarto poema possa expressar a dualidade e a complexidade da vida entre duas regiões tão diferentes, mas tão unidas pela experiência humana. Estou ansioso para ouvir o que você pensa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Versos do Migrante Letrólogo


Parti das águas que beijam meu berço,  

Na bagagem, um diploma e um universo.  

Acordei no cerrado, e ali, imerso,  

Vi-me pintor de um novo e vasto fresco.


As árvores tortas, o céu amplo e aberto,  

Contrastam com a folha em branco, meu deserto.  

Como falar daqui, quando lá é meu aperto?  

Escrevo, mas a tinta é um rio que corre incerto.


Ao almoço, feijão e arroz, sabor da rotina,  

Mas o aroma distante vem do mar e da tina.  

Em cada esquina, um pedaço de minha retina,  

Nas entrelinhas, a saudade sempre se destina.


Os estudantes passam, jovens e alvoroçados,  

A correria da cidade e os sonhos quebrados.  

Eu, com meu livro aberto, olhos fechados,  

Leio os velhos versos, hoje recontextualizados.


Neste meu novo lar, de cimento e concreto,  

O poeta que fui encontra o poeta que sou.  

Me reinvento nos versos, mas sempre secreto,  

O eco do que já foi, e que em mim ainda ecoou.


Vivi a poesia dos outros, mas hoje, convicto,  

Reescrevo minha vida na folha que não amarrota.  

No cerrado ou na selva, sempre um eclético artista,  

Nas asas da angústia, eu alço minha nota mais alta.



domingo, 4 de abril de 2010

Angústia na Cidade das Flores


Migrei do rio que corta minhas terras  

Para a cidade onde flores não são tão raras.  

Deixei o velho chão, minha quilha, minhas serras,  

Em busca do que dizem ser a vida cara a cara.


Pelas ruas de pedras e asfalto desgastado,  

Um sentimento me envolve, insólito, desconhecido.  

Aqui, não há mar, mas me sinto naufragado,  

Na multidão alheia, por todos, por ninguém, ouvido.


Há flores por todos os lados, mas não no meu jardim,  

O solo é árido, a chuva escassa, o cultivo negligente.  

Caminho entre versos e reversos, em um tempo sem fim,  

No espelho me olho, e vejo a face do ontem e do ausente.


Nas paredes do meu quarto, o relógio sem ponteiros,  

Marca a hora da angústia, sempre presente, nunca exata.  

E assim, faço dos meus dias, feiras e feirantes passageiros,  

Na esperança de que a felicidade, por fim, se desata.


Este verso é a trama de linhas já costuradas,  

Retalhos de outros panos, cores já vistas.  

Mas o desenho é novo, e as palavras emprestadas  

Fazem deste poeta, um mestre de antigas conquistas.


Nesta cidade das flores, com a angústia como guia,  

Escrevo meu enredo, crio minha própria estória.  

Sigo a trilha de velhos passos, ao fim do dia,  

O poema está feito, é chegada a hora da memória. 



quarta-feira, 3 de março de 2010

O Rio Tocantins Me Leva, Goiânia Me Recebe




Das margens do Tocantins eu parti,  

um filho da terra, criado em Tucuruí.  

Mas o destino, ah, ele insiste em insistir,  

como as águas que vão, eu fui seguir.


Porto Nacional, em suas salas aprendi  

a magia das letras, a essência de existir.  

Mas como já diziam, e aqui redizi,  

o mundo é grande e cabe na janela sobre o quintal.


Goiânia! Oh cidade de cores, de luz,  

em teus braços de cerrado encontrei meu chão.  

Me acolheste como a Cecília acolheu o azul,  

como Quintana aos pequenos dá grande atenção.


Cora, tua doçura de versos em minha vida se imiscui,  

como o pequi no arroz, aqui achei meu lar.  

Mas Bandeira me lembra, mesmo aconchegado num colchão  

a angústia me visita, me diz: “você não está no teu chão”.


Apartamento montado, emprego arranjado, e ainda  

o vazio me envolve em seu abraço frio e feroz.  

É como a flor que brota em terreno ainda não lavrado,  

ou o fruto que amadurece, mas não encontra sua voz.


E neste poema, este filho do norte com alma errante,  

une caminhos, trilhas, aventuras e estradas e rota, 

Cada verso é um passo na busca de ser relevante,  

em Tucuruí ou Porto, onde o rio e a saudade mora.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Perrengue acadêmico

 



Eu tinha acabado de aprender o nome das ruas floridas de Goiânia quando o telefone tocou como um alarme antigo dentro do meu bolso. Era fim de tarde, céu de bougainvílias no Setor Bueno, caixas ainda por abrir, e eu tentando fingir que começar de novo cabia dentro de um apartamento de um quarto.

— Precisamos falar urgente — disse a secretária do curso, voz de quem corre num corredor. — Sua prova final… sumiu.

Sumiu. A palavra abriu um buraco. Eu tinha deixado a cidade anterior com a sensação de dever cumprido, diploma quase no bolso, notas fechadas. A prova valia metade do período. Sem ela, eu virava um erro administrativo com pernas.

— Como assim, sumiu?

— A professora não encontra o seu envelope. Sem a prova, não podemos lançar a nota. E o sistema fecha hoje.

Olhei para as caixas: livros, canecas, uma planta maltratada. Do lado de fora, uma senhora regava roseiras. Goiânia me recebeu perfumada, mas naquele instante o cheiro virou enjoativo. Sentei no chão, entre o aspirador e a saudade.

— O que eu faço?

— Tente falar com a professora. Estou mandando e-mail para a coordenação. Se não resolver hoje, você… você pode perder o semestre.

Perder o semestre. Em mim, a frase entrou como um copo d’água entornado de uma vez — sem ar entre um gole e outro. Liguei para a professora. Caixa postal. Mandei mensagem: “Prova final perdida. Preciso de retorno.” Abri o notebook, escrevi e-mails em cascata: coordenação, secretaria, colegiado, até para mim mesmo, como se eu pudesse copiar algum futuro em que tudo terminasse bem. As palavras saíam educadas e frias, mas minha cabeça gritava.

Fui para a varanda. O trânsito corria como uma fita brilhante e indiferente. Em cada buzina, parecia haver um “e se”: e se o envelope tivesse caído no lixo, e se alguém tivesse confundido meu nome, e se a mesa da sala 204 tivesse engolido a prova com a elegância de um truque barato. O sol desceu, as luzes acenderam, e eu, no meio, tentava respirar por cima do medo, como quem boia num fervedor.

O celular vibrou. A secretária, de novo, já com um cansaço trêmulo:

— Falei com a professora. Ela está na faculdade. Disse que vai vasculhar a sala. Você pode ficar de plantão?

— Estou aqui.

A noite avançou em passos de corredor. Liguei de vinte em vinte minutos, para disfarçar que queria ligar de dois em dois. Mandei mais e-mails, anexei comprovante de presença, foto da capa da prova que eu, por mania, tinha fotografado antes de entregar. Em algum momento, comecei a lembrar do dia do exame: a caneta azul falhando na terceira questão, a janela fazendo um retângulo de luz sobre o chão, o ventilador soprando pedaços de conversa de outras salas. Eu estava certo de ter assinado, grampeado, entregue. Eu estava certo. Mas a certeza, na ausência do papel, é só um animal assustado.

Às 21h13, o telefone tocou. Eu atendi antes do primeiro toque terminar.

— Achei — disse a professora, ofegante. — Estava no fundo da gaveta, preso atrás de uma pasta de monografias. Caiu com o grampo virado para dentro. O seu nome… ficou colado na madeira.

Sentei. O corpo desaprendeu como ficar em pé. Do lado de fora, alguém riu alto; parecia que a cidade tinha sido informada. Do outro lado da linha, a voz dela mudou de tom, menos defesa, mais humana:

— Sinto muito pelo susto. Já lancei a nota. Você está aprovado.

A palavra aprovado veio como chuva breve em calçada quente: subiu um vapor, e eu chorei sem barulho. A planta no canto da sala, que até então era só outra coisa por regar, ganhou de repente um sentido de permanência. Goiânia voltou a cheirar a flores.

— Obrigado, professora — eu disse. — De verdade.

Desliguei e fiquei na varanda até o vento cansar. Pensei em como as nossas vidas às vezes dependem de um grampo virado, de uma gaveta mal fechada, de uma mão que procura mais um minuto do que devia. Pensei que o drama daquele dia cabia numa frase simples no currículo — “curso concluído” —, e que ninguém veria a noite que eu passei procurando ar dentro de e-mails.

No dia seguinte, comprei uma prateleira, abri as caixas, reguei a planta. Coloquei, num porta-retrato, a foto da capa da prova: meu nome torto, a data, o carimbo. Não como troféu, mas como lembrança do que quase se perdeu. E saí para caminhar entre ipês e jasmins, repetindo baixinho, para não esquecer: às vezes a vida só pede que a gente insista mais um telefonema. O resto, as flores explicam.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Aqua

                                     

 

Eram só pré-palavras, pré-nadadas ensaiadas
Eram n'água anáguas que lavava e suspirava
Eram nada as palavras lavadas do que pescava
O nada era nada quando nadar nada soava
Mas o nada se faz tudo
sem enxergar a mágoa
Como era coração puro
com amor na tábua
Aqua lava aqua cura
Aqua limpa aqua escura
Com ou sem amor nada se perdura, nada, nada








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* Anteriormente publicado no no extinto blogue de poemas pessoa do autor foxpoe.blogspot.com. Informação dada pelo autor. Publicado no Caderno Revista 7faces – Gutemberg Fox p. 55

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Sapato velho

No canto do quarto, repousa um sapato,   pele gasta, sola fina, passo exato.   Já não brilha, não disputa, não se exibe,   mas g...