domingo, 6 de junho de 2010

Do Norte ao Cerrado: Um Retrato em Estrofes


Quem diria que um dia cruzaria essa fronteira,  

Do norte onde nasci, ao cerrado, minha trincheira.  

A mata e o rio, contrastes do solo e da madeira,  

Duas terras distintas, mas ambas dentro da mesma esteira.


Vi o pôr do sol pintar de ouro o meu antigo lar,  

Agora, neste novo chão, o céu também sabe brilhar.  

A beleza é diferente, mas não deixa de encantar,  

Cada lugar tem seu encanto, seu próprio olhar.


Os amigos que deixei, suas faces na memória,  

Na nova cidade, outras faces, mas a mesma história.  

A vida é um livro em constante escrita, uma trajetória  

De personagens e cenários, com sua própria oratória.


Os dilemas que me afetam, já foram sentidos por outros,  

As palavras que agora escrevo, são ecos de antigos potros.  

Na grande tapeçaria da vida, somos todos apóstolos  

De emoções e sensações, guardiães de segredos colossais.


Aqui, na terra do pequi e do cerrado em flor,  

Me descubro novamente, um versificador de amor.  

Não importa de onde venho, nem o anterior  

Eu sou um mosaico de lugares, um imigrante sonhador.


Nestes versos, junto o norte e o cerrado, duas terras,  

Como se junta a areia e a água, nas margens das serras.  

No fim, sou eu e minha pena, minha própria guerra,  

E a vitória é cada poema, nascido de qualquer terra.


Espero que este quarto poema possa expressar a dualidade e a complexidade da vida entre duas regiões tão diferentes, mas tão unidas pela experiência humana. Estou ansioso para ouvir o que você pensa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Versos do Migrante Letrólogo


Parti das águas que beijam meu berço,  

Na bagagem, um diploma e um universo.  

Acordei no cerrado, e ali, imerso,  

Vi-me pintor de um novo e vasto fresco.


As árvores tortas, o céu amplo e aberto,  

Contrastam com a folha em branco, meu deserto.  

Como falar daqui, quando lá é meu aperto?  

Escrevo, mas a tinta é um rio que corre incerto.


Ao almoço, feijão e arroz, sabor da rotina,  

Mas o aroma distante vem do mar e da tina.  

Em cada esquina, um pedaço de minha retina,  

Nas entrelinhas, a saudade sempre se destina.


Os estudantes passam, jovens e alvoroçados,  

A correria da cidade e os sonhos quebrados.  

Eu, com meu livro aberto, olhos fechados,  

Leio os velhos versos, hoje recontextualizados.


Neste meu novo lar, de cimento e concreto,  

O poeta que fui encontra o poeta que sou.  

Me reinvento nos versos, mas sempre secreto,  

O eco do que já foi, e que em mim ainda ecoou.


Vivi a poesia dos outros, mas hoje, convicto,  

Reescrevo minha vida na folha que não amarrota.  

No cerrado ou na selva, sempre um eclético artista,  

Nas asas da angústia, eu alço minha nota mais alta.



domingo, 4 de abril de 2010

Angústia na Cidade das Flores


Migrei do rio que corta minhas terras  

Para a cidade onde flores não são tão raras.  

Deixei o velho chão, minha quilha, minhas serras,  

Em busca do que dizem ser a vida cara a cara.


Pelas ruas de pedras e asfalto desgastado,  

Um sentimento me envolve, insólito, desconhecido.  

Aqui, não há mar, mas me sinto naufragado,  

Na multidão alheia, por todos, por ninguém, ouvido.


Há flores por todos os lados, mas não no meu jardim,  

O solo é árido, a chuva escassa, o cultivo negligente.  

Caminho entre versos e reversos, em um tempo sem fim,  

No espelho me olho, e vejo a face do ontem e do ausente.


Nas paredes do meu quarto, o relógio sem ponteiros,  

Marca a hora da angústia, sempre presente, nunca exata.  

E assim, faço dos meus dias, feiras e feirantes passageiros,  

Na esperança de que a felicidade, por fim, se desata.


Este verso é a trama de linhas já costuradas,  

Retalhos de outros panos, cores já vistas.  

Mas o desenho é novo, e as palavras emprestadas  

Fazem deste poeta, um mestre de antigas conquistas.


Nesta cidade das flores, com a angústia como guia,  

Escrevo meu enredo, crio minha própria estória.  

Sigo a trilha de velhos passos, ao fim do dia,  

O poema está feito, é chegada a hora da memória. 



quarta-feira, 3 de março de 2010

O Rio Tocantins Me Leva, Goiânia Me Recebe

Das margens do Tocantins eu parti,  

um filho da terra, criado em Tucuruí.  

Mas o destino, ah, ele insiste em insistir,  

como as águas que vão, eu fui seguir.


Porto Nacional, em suas salas aprendi  

a magia das letras, a essência de existir.  

Mas como já diziam, e aqui redizi,  

o mundo é grande e cabe na janela sobre o quintal.


Goiânia! Oh cidade de cores, de luz,  

em teus braços de cerrado encontrei meu chão.  

Me acolheste como a Cecília acolheu o azul,  

como Quintana aos pequenos dá grande atenção.


Cora, tua doçura de versos em minha vida se imiscui,  

como o pequi no arroz, aqui achei meu lar.  

Mas Bandeira me lembra, mesmo aconchegado num colchão  

a angústia me visita, me diz: “você não está no teu chão”.


Apartamento montado, emprego arranjado, e ainda  

o vazio me envolve em seu abraço frio e feroz.  

É como a flor que brota em terreno ainda não lavrado,  

ou o fruto que amadurece, mas não encontra sua voz.


E neste poema, este filho do norte com alma errante,  

une caminhos, trilhas, aventuras e estradas e rota, 

Cada verso é um passo na busca de ser relevante,  

em Tucuruí ou Porto, onde o rio e a saudade mora.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Cansaços e descansaços


É dia todo dia antes do dia ser dia 

O levantar de ontem para hoje é... 

Sete dias por semana, quatro semanas, 

Um mês e mais um dia, agonia e fé... 

Anda e canta e coração dança como quer. 

É a chuva é o sol é o vento é farol 

É o levantar de ontem é o pôr do sol 

Nada, nada é como uma noite sem mulher. 

Todo correr é prazer e tem corpo cansado 

Suja roupa, sua roupa, sem suor é sossego 

Anda atoa e perdoa pois com amor é chamego 

Todo prazer sem amor tem coração fadigado 

Transpirar sem respirar, sem cansar sem amar 

Eleva e é leve, leva horas sem demoras a voar 

Sempre ao fim do dia em sua casa adormecerá 

Só a alma só a calma vem em sonhos e assim sempre será.







* Anteriormente publicado no no extinto blogue de poemas pessoa do autor foxpoe.blogspot.com. Informação dada pelo autor. Publicado no Caderno Revista 7faces – Gutemberg Fox p. 56

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Aqua

 


Eram só pré-palavras, pré-nadadas ensaiadas
Eram n'água anáguas que lavava e suspirava
Eram nada as palavras lavadas do que pescava
O nada era nada quando nadar nada soava
Mas o nada se faz tudo
sem enxergar a mágoa
Como era coração puro
com amor na tábua
Aqua lava aqua cura
Aqua limpa aqua escura
Com ou sem amor nada se perdura, nada, nada













* Anteriormente publicado no no extinto blogue de poemas pessoa do autor foxpoe.blogspot.com. Informação dada pelo autor. Publicado no Caderno Revista 7faces – Gutemberg Fox p. 55

quarta-feira, 26 de outubro de 1983

Outubro e Eu: O Prelúdio de 1983 em Verso e Tinta



No dia vinte e seis, quando o ano marcava oitenta e três,  

Outubro trouxe o vento, e com ele, o prenúncio de uma tez.  

Num mundo já complexo, onde a tecnologia fazia suas preces,  

Nascia eu, uma estrela nova, e o universo pôs-se de vez.


O sol de outubro, dourando as folhas em sua queda,  

Seria o mesmo sol a iluminar minha jornada, minha vereda.  

Nos anos que viriam, cada um com seu fardo, sua encrenca,  

Eu seria a soma das estações, o outono de minha própria lenda.


Em oitenta e três, os computadores eram um sonho,  

Mas as palavras já teciam sua mágica, seu risonho.  

Como se soubesse, ainda no berço, com olhos inocentes,  

Que a linguagem seria meu templo, e os textos, meus componentes.


Cada 26 subsequente, um marco, um ano a mais na estrada,  

Outubro sempre retornando, como um velho amigo, sem fachada.  

E nesta data, revivo o início, o primeiro sopro, a primeira jornada,  

Agradecendo por cada ciclo, cada lição, cada manhã iluminada.


Gratidão ao Programa Em Paz

Em um espaço de ouvir e aprender, Corações abertos, prontos a entender. Supervisão que guia, acolhe e reflete, Um farol que ilumina o ca...