domingo, 8 de agosto de 2010

O Mestrado Que Não Veio, Mas a Vida Que Seguiu


Quando deixei o cerrado, o plano era claro:  

O mestrado me chamava, o futuro a um disparo.  

Mas a vida, ah, ela ri de nossos desígnios,  

E deu-me um palco sem plateia, um ensaio vazio.


Em Goiânia, a dor da negação, o gosto amargo.  

Mas de cada fim floresce um novo começo, um descargo.  

Como os versos que não deram certo, mas tornam-se outro poema,  

O caminho que se fecha é o prelúdio da próxima estrofe, a diadema.


Então veio a chance, um novo capítulo a escrever,  

Uma passagem só de ida, um desconhecido a conhecer.  

O exterior me acolheu, como um manuscrito em branco,  

E ali redescobri minha voz, meu ritmo, meu encanto.


Cada língua que escuto é uma nova métrica,  

Cada cultura que conheço, uma rima excêntrica.  

Em terras estrangeiras, me encontro e me perco,  

Mas cada perda é ganho, em meu vasto universo.


Hoje, quando olho para trás, vejo a beleza do acaso,  

Cada revés foi um degrau, cada lágrima, um abraço.  

O mestrado que não veio foi a pedra em meu sapato,  

Mas também o combustível que me lançou ao firmamento exato.


Este poema é meu lema, e nele agradeço cada desvio,  

Pois em cada curva inesperada, eu me torno mais meu, mais pio.  

O exterior é agora meu lar, mas Goiânia, Porto, Palmas, Tucuruí, sempre em mim,  

Sou feito de todos os lugares onde não fiquei e onde enfim, me encontro sem fim.


quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cantos de Saudade, Ecos de Conquista


Parti da minha terra, na canoa de papel,  

Veio a maré da vida e me lançou ao léu.  

Mas nas águas do destino, um novo farol no céu,  

O cerrado acendeu sua luz, um mistério fiel.


Oh, como anseio pelas vozes que lá ficaram,  

Pelas melodias do vento, pelas chuvas que falaram.  

Mas cada nova amizade, cada sorriso que ganhei,  

São novas canções, ecos de vitórias que eu sei.


Nas noites de Goiânia, ouço os tambores do meu passado,  

Mas também a guitarra do agora, o ritmo acelerado.  

A saudade canta em mi menor, um acorde arrastado,  

Mas a conquista ressoa em sol maior, o tom do agrado.


O sertão e o cerrado, dois cenários, um só ator,  

Eu recito meus versos, com saudade e com fervor.  

Se por um lado a ausência me marca como um estigma,  

Por outro, a presença me dá a certeza do enigma.


Neste poema, a saudade e a conquista se enfrentam,  

Como dois corais em harmonia, eles se complementam.  

Os ecos do que foi e os cantos do que será,  

Unidos na sinfonia da vida, onde eu sou a voz que está.


Espero que este sexto poema também tenha capturado a complexidade das emoções e experiências que definem uma vida entre duas terras. Gostaria de saber o que você acha.

domingo, 6 de junho de 2010

Do Norte ao Cerrado: Um Retrato em Estrofes


Quem diria que um dia cruzaria essa fronteira,  

Do norte onde nasci, ao cerrado, minha trincheira.  

A mata e o rio, contrastes do solo e da madeira,  

Duas terras distintas, mas ambas dentro da mesma esteira.


Vi o pôr do sol pintar de ouro o meu antigo lar,  

Agora, neste novo chão, o céu também sabe brilhar.  

A beleza é diferente, mas não deixa de encantar,  

Cada lugar tem seu encanto, seu próprio olhar.


Os amigos que deixei, suas faces na memória,  

Na nova cidade, outras faces, mas a mesma história.  

A vida é um livro em constante escrita, uma trajetória  

De personagens e cenários, com sua própria oratória.


Os dilemas que me afetam, já foram sentidos por outros,  

As palavras que agora escrevo, são ecos de antigos potros.  

Na grande tapeçaria da vida, somos todos apóstolos  

De emoções e sensações, guardiães de segredos colossais.


Aqui, na terra do pequi e do cerrado em flor,  

Me descubro novamente, um versificador de amor.  

Não importa de onde venho, nem o anterior  

Eu sou um mosaico de lugares, um imigrante sonhador.


Nestes versos, junto o norte e o cerrado, duas terras,  

Como se junta a areia e a água, nas margens das serras.  

No fim, sou eu e minha pena, minha própria guerra,  

E a vitória é cada poema, nascido de qualquer terra.


Espero que este quarto poema possa expressar a dualidade e a complexidade da vida entre duas regiões tão diferentes, mas tão unidas pela experiência humana. Estou ansioso para ouvir o que você pensa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Versos do Migrante Letrólogo


Parti das águas que beijam meu berço,  

Na bagagem, um diploma e um universo.  

Acordei no cerrado, e ali, imerso,  

Vi-me pintor de um novo e vasto fresco.


As árvores tortas, o céu amplo e aberto,  

Contrastam com a folha em branco, meu deserto.  

Como falar daqui, quando lá é meu aperto?  

Escrevo, mas a tinta é um rio que corre incerto.


Ao almoço, feijão e arroz, sabor da rotina,  

Mas o aroma distante vem do mar e da tina.  

Em cada esquina, um pedaço de minha retina,  

Nas entrelinhas, a saudade sempre se destina.


Os estudantes passam, jovens e alvoroçados,  

A correria da cidade e os sonhos quebrados.  

Eu, com meu livro aberto, olhos fechados,  

Leio os velhos versos, hoje recontextualizados.


Neste meu novo lar, de cimento e concreto,  

O poeta que fui encontra o poeta que sou.  

Me reinvento nos versos, mas sempre secreto,  

O eco do que já foi, e que em mim ainda ecoou.


Vivi a poesia dos outros, mas hoje, convicto,  

Reescrevo minha vida na folha que não amarrota.  

No cerrado ou na selva, sempre um eclético artista,  

Nas asas da angústia, eu alço minha nota mais alta.



domingo, 4 de abril de 2010

Angústia na Cidade das Flores


Migrei do rio que corta minhas terras  

Para a cidade onde flores não são tão raras.  

Deixei o velho chão, minha quilha, minhas serras,  

Em busca do que dizem ser a vida cara a cara.


Pelas ruas de pedras e asfalto desgastado,  

Um sentimento me envolve, insólito, desconhecido.  

Aqui, não há mar, mas me sinto naufragado,  

Na multidão alheia, por todos, por ninguém, ouvido.


Há flores por todos os lados, mas não no meu jardim,  

O solo é árido, a chuva escassa, o cultivo negligente.  

Caminho entre versos e reversos, em um tempo sem fim,  

No espelho me olho, e vejo a face do ontem e do ausente.


Nas paredes do meu quarto, o relógio sem ponteiros,  

Marca a hora da angústia, sempre presente, nunca exata.  

E assim, faço dos meus dias, feiras e feirantes passageiros,  

Na esperança de que a felicidade, por fim, se desata.


Este verso é a trama de linhas já costuradas,  

Retalhos de outros panos, cores já vistas.  

Mas o desenho é novo, e as palavras emprestadas  

Fazem deste poeta, um mestre de antigas conquistas.


Nesta cidade das flores, com a angústia como guia,  

Escrevo meu enredo, crio minha própria estória.  

Sigo a trilha de velhos passos, ao fim do dia,  

O poema está feito, é chegada a hora da memória. 



quarta-feira, 3 de março de 2010

O Rio Tocantins Me Leva, Goiânia Me Recebe

Das margens do Tocantins eu parti,  

um filho da terra, criado em Tucuruí.  

Mas o destino, ah, ele insiste em insistir,  

como as águas que vão, eu fui seguir.


Porto Nacional, em suas salas aprendi  

a magia das letras, a essência de existir.  

Mas como já diziam, e aqui redizi,  

o mundo é grande e cabe na janela sobre o quintal.


Goiânia! Oh cidade de cores, de luz,  

em teus braços de cerrado encontrei meu chão.  

Me acolheste como a Cecília acolheu o azul,  

como Quintana aos pequenos dá grande atenção.


Cora, tua doçura de versos em minha vida se imiscui,  

como o pequi no arroz, aqui achei meu lar.  

Mas Bandeira me lembra, mesmo aconchegado num colchão  

a angústia me visita, me diz: “você não está no teu chão”.


Apartamento montado, emprego arranjado, e ainda  

o vazio me envolve em seu abraço frio e feroz.  

É como a flor que brota em terreno ainda não lavrado,  

ou o fruto que amadurece, mas não encontra sua voz.


E neste poema, este filho do norte com alma errante,  

une caminhos, trilhas, aventuras e estradas e rota, 

Cada verso é um passo na busca de ser relevante,  

em Tucuruí ou Porto, onde o rio e a saudade mora.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Cansaços e descansaços


É dia todo dia antes do dia ser dia 

O levantar de ontem para hoje é... 

Sete dias por semana, quatro semanas, 

Um mês e mais um dia, agonia e fé... 

Anda e canta e coração dança como quer. 

É a chuva é o sol é o vento é farol 

É o levantar de ontem é o pôr do sol 

Nada, nada é como uma noite sem mulher. 

Todo correr é prazer e tem corpo cansado 

Suja roupa, sua roupa, sem suor é sossego 

Anda atoa e perdoa pois com amor é chamego 

Todo prazer sem amor tem coração fadigado 

Transpirar sem respirar, sem cansar sem amar 

Eleva e é leve, leva horas sem demoras a voar 

Sempre ao fim do dia em sua casa adormecerá 

Só a alma só a calma vem em sonhos e assim sempre será.







* Anteriormente publicado no no extinto blogue de poemas pessoa do autor foxpoe.blogspot.com. Informação dada pelo autor. Publicado no Caderno Revista 7faces – Gutemberg Fox p. 56

Gratidão ao Programa Em Paz

Em um espaço de ouvir e aprender, Corações abertos, prontos a entender. Supervisão que guia, acolhe e reflete, Um farol que ilumina o ca...