No apertamento, paredes testemunhas, quietas,
Poucas visitas, a solidão e eu, íntimas cometas.
Algumas desejadas, como a musa que se senta,
Outras, como a saudade, penetram sem permissão, indiretas.
As quatro paredes me encerram, mas também me resguardam,
Entre os móveis que montei, meus sonhos se alargam.
Mas o tempo, o insaciável, rói as horas, e então me afoito,
E assim, de mala feita, me lançam a outro recinto, a outro açoite.
Cruzei o céu, além do Atlântico, em voo noturno,
O apertamento ficou para trás, agora, o mundo é meu turno.
Amsterdã me recebeu, invernal, escura, mas repleta de luzes,
E entre canais e ciclovias, encontrei novos trajetos, novas cruzes.
Lá, na terra dos moinhos e das tulipas, renasço,
O frio me corta, mas a novidade aquece meu abraço.
Sem cantigas de chegada, mas com um silêncio eloquente,
A capital holandesa me faz poeta novamente.
No apertamento, a solidão foi minha dura amiga,
Em Amsterdã, ela me segue, mas sua face é menos fadiga.
Ambas são etapas, capítulos de minha longa balada,
Sou o viajante que faz de cada parada uma nova jornada.
Assim escrevo o outro verso, um relato de transições,
De um apertamento em Goiânia a canais de novas nações.
Cada estrofe é um lugar, cada rima uma nova memória,
E assim, tecendo palavras, escrevo minha eterna história.